Na minha quietude
procuro refúgio entre sombras e flores,
sob o sol que arde fortemente
incendiando-me o olhar e o pensamento.
O meu corpo, lento, arrasta-se
como asa ferida, de ave em sobressalto.
A travessia é difícil; a sede seca-me os lábios.
As palavras emudecidas
não localizam o caminho até à fonte.
O suor molha-me o rosto, todo o corpo.
O silêncio incita-me a resistir
e a abraçar o verão.
«As palavras pesam. Um texto nunca diz a dor das pequenas coisas» Graça Pires in Poemas escolhidos
sábado, junho 21, 2025
Abraçar o verão
sábado, junho 14, 2025
Na solidão dos dias
sábado, junho 07, 2025
Em silêncio escuto o universo
Em silêncio escuto o universo.
As sombras sussurram o medo
sufocadas por trevas sem fim,
que refletem nos escombros
a vergonha da humanidade.
Os pássaros deixaram de cantar
a melodia do alvorecer;
enfileirados num galho,
estáticos, não ousam acordar.
Num movimento incessante
passos sem corpos cruzam-se
no vazio da noite,
num mundo transmutado.
Chegou o momento de despertar,
de abraçar as luzes
que dissipam a escuridão
e alimentam os sonhos.
@Emília Simões
07.06.2025
sábado, maio 31, 2025
As palavras tardam
O silêncio abriga-as e recolhidas não se soltam,
coladas à garganta, que sufocada pela inação,
não as deixa fluir.
A minha voz, cada vez mais rouca,
imperceptível, não soletra nenhuma palavra,
nem uma sílaba, uma letra sequer.
Na minha angústia brado ao vento
que me sopre uma brisa, um novo alento,
que me deixe respirar as palavras.
Num instante os sentidos despertam.
As palavras brotam e com elas
novos versos, novas rimas, preenchem
o meu vazio e a essência é revelada.
@Emília Simões
31.05.2025
sábado, maio 24, 2025
Permite que a luz
Fotos de stock
Permite que a luz penetre a minha sombra
e liberte os destroços que me levam à queda
nos abismos, que cruzam os meus percursos.
Permite que o meu olhar se estenda até ao horizonte
para apreciar o voo das aves
na melodia do entardecer, que acolho no meu peito.
Permite que o meu sonho se expanda ao longo daquela estrada
por onde caminho descalça e sozinha,
onde apenas procuro o pulsar de uma emoção.
Permite que seja apenas eu e o calor do teu abraço.
sábado, maio 17, 2025
A casa parece-me tão longe...
Pixabay
A casa parece-me tão longe...
Partiste e deixaste-a vazia.
As andorinhas ainda fazem o ninho no beirado
e as rosas do quintal ainda lá estão perfumadas.
O meu silêncio fala-me de ti
e da casa cheia, com os risos das crianças,
e das festas que improvisavam só
para te ver sorrir.
Tudo está diferente e até o tempo
anda caótico, em alternâncias constantes,
num Planeta já tão pouco azul.
Os peixes do rio também
já não são os mesmos. A poluição matou-os.
Agora já nem lhes sei os nomes.
Quero apenas recordar o tempo
do nosso tempo, tão claro, tão transparente,
com o sol nascente e poente
a incendiar-nos os dias.
@Emília Simões
17.05.2025
sábado, maio 10, 2025
A primavera
Emília Simões
10.05.205
sábado, maio 03, 2025
Um manto de silêncio
sábado, abril 26, 2025
Na sede que se fez alvorada
Na sede que se fez alvorada
ainda ressoa o canto dos pássaros
que, em grande alvoroço,
sobrevoavam as cidades
clamando por justiça e amor.
Os ecos eram tão vigorosos,
que estradas se rasgaram de lés a lés
e todos avançavam no mesmo sentido,
a espalhar a notícia, que pairava no ar.
Foi um dia único na vida de um país
cinzento, triste, em que a primavera
se celebrava apenas nos campos.
Foi plena a festa que, nesse dia,
fez germinar nas cidades
campos de flores vermelhas.
Emília Simões
26.04.2025
sábado, abril 19, 2025
Abro a porta ao silêncio
e refugio-me nas memórias,
que tenho albergadas em mim.
São memórias longínquas,
que se vão desvanecendo,
como nuvens que se desfazem
impelidas pelo vento, deixando uma
estrada no céu.
tentando enxergar outro lugar para
guardar as lembranças,
que submergem entre sombras
e solidões que, de instante a instante,
se mostram à minha passagem.
para que fiquem intactas, sempre
que me recordar dos dias em que tudo
era claro e as aves voejavam
em alegres bandos, dentro de mim.
Desejo a todos uma santa e feliz Páscoa!
sábado, abril 12, 2025
Escrevo sobre pedras e espinhos
a rota é dura e longa
e o meu traço desgasta-se
como poeira ao vento.
Perdi-me nos trilhos;
não reconheci nas pedras
o esquiço do meu trajeto
e fiquei desamparada e só.
No meu silêncio,
tentei escutar-te
A tua voz velada
sumiu-se e não te ouvi.
Sentei-me no cimo dum monte
a perscrutar o horizonte.
sábado, abril 05, 2025
Um poema germina
Dissemino palavras, imprecisas,
sob a magnólia do jardim;
Deixo que o tempo as faça florescer na primavera.
Não sei se as palavras tem odor, como as flores do jasmim
dependuradas do muro, em redor da casa.
Todos os dias espreito da janela
para enxergar alguma palavra, nas folhas
da magnólia, mas o vento, em rodopio,
confunde-me o olhar.
Numa manhã, deparo-me com um broto,
que me parece uma folha a perfurar
uma pétala de magnólia, caída no chão.
O poema inicia o seu ciclo
e, como a primavera, chegou o tempo
de vicejar.
sábado, março 29, 2025
Nas montanhas aprendi o rumo
por caminhos oblíquos.
Rasguei a fome com mel
e flores silvestres.
Caminhei só, ao sol, à chuva,
suspensa em ramos de árvores
que me serviam de abrigo.
Subi a pulso um monte e outro.
O meu corpo transpirava sangue,
a noite entranhava-se-me na pele.
O silêncio fazia-me companhia.
Dormi com as aves e acordei
suspensa nos ninhos.
Chove sobre os meus olhos.
As nuvens parecem fontes
que se transformam em rios.
Agora o sol beijou-me o rosto.
Nas sombras encontrei a luz
e nas palavras renasci.
sábado, março 22, 2025
Semana Comemorativa do Dia Mundial da Poesia
segunda-feira, março 17, 2025
Semana Comemorativa do Dia Mundial da Poesia
sábado, março 08, 2025
O silêncio do deserto
convida a contemplação,
a introspeção,
numa busca interior
em que os ruídos
do mundo não interferem.
No deserto não há solidão.
Apenas o desejo de escavar no
mais profundo do âmago
o que perturba, o que não está bem,
o que cega e retira o brilho
do sentido da vida.
Deserto, terreno propício
à conversão dos atos
e formas de viver.
No deserto há sempre
para colher uma flor.
Feliz Dia!
Emília Simões
08.03.2025
sábado, março 01, 2025
Em silêncio
nos meus jardins.
Os muros com vestes aveludadas
de musgos e fetos,
numa paisagem sombria,
convidam-me ao silêncio.
Ouço apenas o canto dos pássaros
e observo no fundo do quintal
os lírios, que evocam saudade.
Os meus jardins têm poucas flores.
As rosas ainda persistem; são belas,
como os lírios.
Ali me detenho, sem pressa.
Escuto atenta
o canto dos pássaros
que, em meu redor, se agitam
e partem em debandada.
O muro resguarda o silêncio,
sábado, fevereiro 22, 2025
O tempo
escultura talhadas
nas areias molhadas da praia.
Dura muito?
Dura pouco?
A maré é o indicador
e quão breve é a maré,
como o tempo, que esmaece.
Uma onda de espuma
no seu vaivém
ou uma aragem destroem
o trabalho do artista,
que brilhou enquanto durou
Assim é o tempo.
Brilha enquanto temos tempo
para o reter entre as mãos,
quando existimos sem pressa
sábado, fevereiro 15, 2025
Nos galhos das árvores
o canto dos pássaros
anuncia a primavera
e as aves voam livres e felizes.
O tempo é célere
e escoa-se por entre os dedos;
agora inverno, amanhã primavera;
os campos enchem-se de flores
e a natureza parece sorrir.
Os ponteiros do relógio
seguem o seu rumo
e a luz sobrepõe-se à penumbra.
Chegou o tempo
de colher os vestígios
da primavera e deixar
que as flores inundem
o meu jardim.
Emília Simões
15.02.25
sábado, fevereiro 08, 2025
A poesia é livre
como um rio que, pela encosta abaixo,
vai serpenteando montes e vales
até chegar à foz.
Mas, como o rio,
também a poesia
encontra obstáculos,
silêncios, incertezas,
e tantas vezes
fica presa na garganta.
O poeta sente-se então incapaz
de desbravar a secura das palavras,
que teimam em ficar coladas
no palato do silêncio.
Uma rajada de vento
revolve a natureza.
O poeta estremece;
as palavras soltam-se.
Emília Simões
08.02.2025
sábado, fevereiro 01, 2025
O meu mundo
mas tão belo.
Longe do bulício das cidades,
dos ruídos de que só mais tarde me apercebi.
Era um tempo de viver a natureza por inteiro.
Nas flores, nas aves, no azul dos céus,
no sol a brilhar por entre as searas
douradas, ao entardecer.
O mundo era perfeito. Respirava-se paz.
À noite milhões de estrelas cintilavam no céu
e tantas estrelas cadentes pude agarrar...
As constelações bem definidas no firmamento,
como jamais pude enxergar.
Em noite de Lua Cheia, como parecia tão próxima...
Uma noite tentei alcançá-la mas, desisti.
O meu mundo mudou-se para outro mundo.
Tão longe e tão perto nas emoções
que em mim ficaram guardadas,
sábado, janeiro 25, 2025
Passei na nossa rua
Ainda não tinha voltado desde que partiste.
Chovia, chovia muito, dentro e fora de mim.
Um caudal imenso enchia o leito do rio
que, lá em baixo, refletia o teu olhar
nas lembranças, que deixaste gravadas
no mais íntimo do meu ser.
Tanto que eu gosto daquele rio!
Guarda todas as memórias de quantos
partiram e deixaram as reminiscências
do passado, sobre as névoas do rio.
Um passado, que guardo em silêncio
no meu coração, que só eu sei,
que só eu entendo, que só eu vivo,
que crepita em intimidade e saudade,
para sempre.
Emília Simões
25.01.2025
sábado, janeiro 18, 2025
Gosto do gorjeio dos pássaros,
quando à noite se aninham
na árvore junto à minha janela.
Gosto do som da água,
que cai daquela cascata
na encosta da serra.
Gosto do colorido
das flores, quando desabrocham
no vaso, da minha varanda.
Gosto do sol no horizonte
brilhante como os teus olhos,
quando fixam os meus.
Gosto da natureza
verde e fresca,
nos dias calmos de inverno.
Gosto do silêncio,
das tardes soalheiras
em que escuto a tua voz.
Gosto, porque gosto
das coisas simples do mundo
que, em segredo,
me falam de vida.
Emília Simões
18.01.2025
sábado, janeiro 11, 2025
Inverno, duro e frio
sábado, janeiro 04, 2025
Dou passos a medo
a porta.
Tinham-me dito que estava fechada,
porque as gripes e o Covid
andam por aí.
Cheguei e bati.
Dizem-me, a senhora está doente, de cama,
e não quer contágios.
Imaginei a solidão e o silêncio
de quem vive dependente,
sem direito a um sorriso, a um aperto de mão,
a uma palavra encorajadora.
O medo continua a limitar as ações
e o inverno continua frio no coração de
quem nunca viveu entre quatro paredes.
Há que acender fogueiras
para inflamar os corações.